Memórias de Abril

No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril,  os alunos do ensino secundário elaboraram textos  sobre as  “Memórias de Abril”.

 

   Hoje vou contar o quanto a revolução de abril 1974 mudou a vida do meu pai e da sua família.                                                                                                                                                      

    O meu pai vivia em Luanda, Angola,  com os meus avós e o meu tio e todos viviam bem.

  Apesar da revolução, em julho de 1974, a vida em Luanda era normal e os meus avós vieram de férias a Portugal para ver a família. O meu pai tinha 12 anos e pensava, tal como os pais dele, que no final das férias voltaria a Luanda.

    Depois de uns meses em Portugal, em setembro de 1974, ficaram a saber que a guerra tinha chegado a Luanda, por isso os meus avós decidiram que não era seguro voltar para Angola. Como tinham deixado ficar tudo naquele país, aonde esperavam regressar, não trouxeram nada para Portugal. Ficaram sem o espólio pessoal e nem o dinheiro de uma vida de trabalho conseguiram transferir, visto que os bancos tinham fechado por causa da guerra.

  Foi assim que o meu avô ficou sem emprego.

   Os primeiros anos em Portugal não foram fáceis, porque os meus avós ficaram a viver na casa dos meus bisavós, numa aldeia, em Oliveira de Azeméis. Sem nada, eram obrigados a ir buscar roupa e alimentos ao IARN (Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais).

    Depois de algum  tempo, a situação estabilizou e os meus avós conseguiram recuperar e voltar a ter uma vida normal, contudo nunca mais regressaram a Angola.

                                                                                                                                 António Barbosa| 10 B

 

 

   No dia 25 de abril de 1974, a minha avó, Margarida Cristão, tinha cerca de oito anos.

   As suas memórias sobre a revolução são difusas, mas a minha avó tem a ideia de ver os seus pais numa euforia enorme, porém, simultaneamente, preocupados por ser uma revolução nova e com consequências imprevisíveis.

  Nessa manhã, Portugal acordou com um ambiente tenso e parecia haver  alguma ansiedade no ar. Pressentia-se algo diferente. Então, as pessoas começaram a dirigir-se para a rua, à espera de que algo importante acontecesse.

  O dia avançava e as notícias sobre uma revolução chamada “Revolução dos Cravos” espalhavam-se rapidamente. Era possível ouvir o povo gritar “Liberdade!”.

   Foi, portanto, a partir desse dia que ficou decretado que o dia 25 de Abril seria celebrado como o “Dia da Liberdade”, um marco na História de Portugal.

  Concluindo, pelas memórias da minha avó, este dia provocou uma transformação em Portugal, e tal como todos sabem, foi um dia decisivo para o nosso país.

Sara Ferreira| 10 B

 

   Estas são algumas memórias de pessoas da minha família, sobre o dia 25 de abril de 1974.

            O meu avô contou-me que, nesse dia, ele e os colegas estavam a trabalhar e foram informados de que estava a ocorrer uma revolução, mas continuaram a trabalhar, como se nada tivesse acontecido. Uma informação, talvez relevante, é o facto de a empresa ser inglesa.

            Nesse dia, o meu tio-avô foi buscar filhos (os meus tios) mais cedo à escola, porque não houve aulas. A escola tinha fechado, uma vez que havia receio e medo por parte da população, do que poderia vir a acontecer durante e após a revolução. Havia até quem temesse uma guerra civil. Naquele tempo, a escassez de informação contribuía ainda mais para o adensar de um ambiente de medo e de preocupação.

            O meu tio, principalmente alguns dias depois da revolução, recorda-se de ter visto mais militares do exército do que era habitual.

            Tal como a escola dos meus tios, a da minha tia também fechou e o encerramento prolongou-se por alguns dias.

            Estas e outras memórias da revolução dos cravos não desapareceram e, enquanto forem lembradas, são parte integrante da história do nosso país.

                                                                                                                             Sofia Moura| 10 A

 

   Todos os portugueses ouviram falar no dia 25 de abril de 1974.

   Nesse dia, ocorreu uma revolução em Portugal que derrubou o regime ditatorial. Também conhecida como a Revolução dos Cravos, foi liderada por militares e resultou numa transição pacífica para a democracia. Este dia foi marcado por protestos e foram entregues cravos vermelhos aos soldados como sinal de paz.

  O meu tio-avô estava na Alemanha a trabalhar precisamente quando tudo aconteceu. Ouviu na rádio que havia uma revolução e quis voltar para a sua terra. Quando chegou a Portugal, apercebeu-se de que muitos homens tentavam apanhar táxis para regressarem às suas famílias, porém os condutores não faziam certas viagens, pois o combustível já era racionado.

  Contou-me também que, a partir desse dia, as pessoas começaram a sentir muitas diferenças no que toca à liberdade: passaram a existir muitos partidos políticos, toda a gente podia votar, começou a haver liberdade de expressão, mais igualdade de género, e a PIDE foi extinta.

  Assim, o 25 de abril foi fundamental para a história e evolução do nosso país e ficará guardada na memória dos portugueses, cada um com a sua história para contar.

Mª Francisca Monteiro| 10 B

 

  Portugal tinha sido rico, mas estava pobre, por isso queria manter a posse das colónias. Assim, todo o dinheiro era canalizado para a guerra colonial. Milhares jovens portugueses morriam na guerra, outros tantos voltavam magoados física e mentalmente. Não havia liberdade, nem se podia questionar a autoridade e quem o fizesse era confrontado pela polícia militar (PIDE). Neste contexto, os militares decidiram, então, derrubar o governo.

  Nas memórias do meu avô, pouco ouvi sobre o dia propriamente dito, porque ele vivia na aldeia e a sua existência era normal e inócua para o poder político.

  O meu avô lembra-se de ter ouvido falar de uma revolução. Contudo, do que ele me contou, percebi que na sua cabeça prevalece uma ideia negativa sobre o 25 de abril. Na altura, disse ele, os terrenos eram roubados aos seus donos, uma vez que diziam que tudo era de todos. No discurso dele, a confusão instalou-se no país.

  Realmente, o meu avô deve ter alguma razão, porque os  tempos que se seguiram ao 25 de abril devem ter sido muito conturbados. Contudo, e até ele concorda, foi um acontecimento que nos trouxe aspetos positivos, que se refletem nos dias de hoje, pois  podemos expressar livremente o nosso pensamento, e não vivemos numa ditadura.

  Concluindo, apesar de ter causado  alguns constrangimentos, no geral, o 25 de abril foi muito importante para, ainda hoje, vivermos em democracia e em liberdade.

Tiago Miguel Gomes| 10 B

 

 

   Vou contar algumas breves histórias entre centenas, milhares, milhões de histórias de pessoas que sofreram, de alguma forma, com o Estado Novo e que, depois do 25 de abril de 1974 puderam respirar um novo ar, livres das correntes da ditadura.

   Estávamos na época do Estado Novo e a minha avó era apenas uma criança, quando o seu pai foi trabalhar para a França. Todavia, ao fim de um ano ele decidiu voltar, visto que a sua filha, a minha avó, com seis anos, sentia muito a sua falta. Quando o meu avô foi fazer um exame médico para iniciar o serviço militar, que era obrigatório na época, os médicos consideraram-no inapto, devido a um problema na coluna, por isso não foi obrigado a ir para a guerra do ultramar, como acontecia a milhares de rapazes antes do 25 de abril.

  Disse-me o meu avô que antes da revolução havia muitas mortes inocentes, que, por exemplo, uma vez a polícia descobriu que uma vizinha sabia ler ao contrário, e que, por isso, lhe arrancaram as unhas das mãos.

  Quando o dia 25 de abril ocorreu, o meu avô estava a trabalhar e a minha avó era adolescente.

 

   O avô de uma amiga, pelo contrário, esteve no exército durante a ditadura, a combater em Angola, na famosa Guerra do Ultramar. Recebeu uma medalha, mas sabemos que cometeu crimes de guerra no território angolano.  

   O bisavô dessa mesma amiga teve de fugir à PIDE, pois ouvia rádio francesa. Até hoje, não se sabe como foi descoberto, dado que o senhor ouvia rádio muito baixinho.

  A antiga professora de Matemática da minha amiga contou que, quando se deu a Revolução dos Cravos, ela tinha apenas seis ou sete anos. Um dia,  estava numa aula, quando, de repente, dois homens de fato entraram na sala e retiraram a foto de Salazar da parede.  Era tudo estranho!

  E estas são apenas algumas pequenas memórias do antes e do depois da revolução de abril.

Jéssica Soares|10 C

 

   O 25 de abril não foi sentido da mesma maneira no país inteiro nem com a mesma intensidade por toda a gente.

   Enquanto em Lisboa, na capital do país, as pessoas viram as suas vidas perturbadas e condicionadas pelas manifestações, noutras cidades e aldeias, só no dia seguinte é que as populações se aperceberam de que tinha havido uma revolução.

   No caso dos meus avós, que trabalhavam no Porto, a revolução quase não foi sentida. A minha avó teve um dia de trabalho normal e só soube o que estava a acontecer pela rádio.  Ao contrário, o meu avô e os colegas de trabalho ficaram bastante preocupados, porque o banco onde trabalhavam fechou as portas e impediu que os trabalhadores saíssem, sem qualquer explicação. Só mais tarde souberam o que realmente tinha acontecido.

   E são estas as breves memórias que os meus avós ainda conservam sobre aqueles momentos conturbados da revolução de abril

Luísa Teixeira| 10 D

 

      Vou contar as memórias da minha avó materna e da minha avó paterna sobre o que viveram e sentiram no dia da revolução de 25 de abril.

      No dia 25 de abril de 1974, a minha avó paterna estava de serviço na fábrica enquanto estava a acontecer a revolução. Ela não tinha noção do que se estava a passar e continuou a trabalhar enquanto “toda a gente foi para o barulho”. Nessa altura, a minha avó tinha 20 e ainda não tinha sido mãe, portanto o meu pai não vivenciou a época da ditadura nem o tempo que se seguiu imediatamente ao dia 25 de abril.

      A minha avó materna nasceu e viveu a sua infância na aldeia, por isso nunca teve uma noção concreta da ditadura. Nessa época, mal as crianças chegavam à escola tinham de rezar e, em casa, havia sempre quadros de Salazar e de Américo Tomás pendurados nas paredes. Tal como as outras crianças da aldeia, a minha avó fora sempre educada a ter respeito pelos ministros de Salazar que tinham casas na aldeia, portanto quando passava por eles tinha de os cumprimentar da seguinte forma: “Vossa excelência, muito bom dia, senhor…”. Depois do 25 de abril essa tradição acabou.

      No dia 25 de abril de 1974 ela já morava em Serzedo, em Gaia, e como não havia televisão nem telefone, ela não sabia o que se estava a passar, contudo, ouvia aviões de guerra a sobrevoar a sua terra. Nessa altura, ela ainda não trabalhava e, como também não percebia muito de política, não estranhou.

      Passado um ano, a minha avó começou a trabalhar na maternidade do Porto e, pelo testemunho de pessoas que já trabalhavam lá na época da ditadura, ficou a saber que no refeitório da maternidade havia distinção de tratamento entre as várias profissões, pelo que os médicos, as enfermeiras e as auxiliares ocupavam espaços diferentes. Contudo, com o 25 de abril, essa distinção acabou, portanto, a minha avó não passou por essa fase.

      Após um ano da revolução, a minha avó começou a trabalhar e contou-me que no dia 1 de maio de 1975, quando regressava a pé do trabalho, na zona dos Clérigos, viu muita gente a correr. A confusão era grande: ouvia-se tiros e via-se gente a fugir por entre aqueles que tombavam, talvez mortos. A revolução do 25 de abril continuava a fazer-se sentir em Portugal!

     Esta foi a história que as minhas avós me contaram sobre a dia 25 de abril de 1974.

Clara Nicolau|10 A            

 

 

  Esta é uma história baseada em factos reais, sendo Maria a minha avó materna e António, o meu avô.

  Vinte e cinco de abril de 1974, são sete da manhã. É mais um dia como outro qualquer na vida de Maria, de vinte e dois anos, que ajuda o seu pai a abrir o pequeno negócio familiar no lugar do Curro, na freguesia de Canelas.

 Os clientes habituais vão chegando, procurando o pão fresco, alguns produtos de mercearia e os famosos copinhos de vinho, muito apreciados pelos homens deste lugar, ligados ao trabalho pesado das pedreiras.

  A manhã vai passando tranquila. Maria, nos momentos de pausa, deixa o pensamento viajar: tem o namorado longe. António tem vinte e três anos e está a cumprir o serviço militar, está na guerra, em Angola, a defender os interesses de Portugal. António cumpre a sua função, vigia prisioneiros de guerra numa prisão improvisada num forte em frente à baía de Luanda. O seu olhar prende-se no horizonte, no azul do oceano, mas o seu pensamento está em Maria e no pequeno lugar onde se conheceram e viveram toda a vida.

  O que estará ela a fazer?

  Um cliente mais atento à emissão de rádio, de repente, põe todos em sentido: Pouco barulho, ouvem o que estão a dizer no rádio? Estão a fazer uma revolução em Lisboa, querem deitar o governo abaixo!

  Aquelas palavras foram difíceis de perceber. O que significava aquilo? Todos ficaram confusos sem saber o que pensar. A notícia espalhou-se rapidamente e chegaram mais pessoas ao pequeno café e mercearia, que começou a ficar cheio. Do rádio continuavam a surgir notícias que confirmavam a revolta popular, que poderia derrubar o regime que oprimia o povo.

  Será que é só em Lisboa? E no Porto, não se passa nada?

  Os mais inquietos e corajosos resolvem organizar um grupo e seguem para o centro da cidade do Porto. Se há mesmo uma revolução, então ela não vai acabar sem o contributo do pessoal do Curro.

  O ambiente fica mais calmo, já passa da hora do almoço e a tarde espreita. Ninguém se move, todos em silêncio colados ao rádio. Ouve-se a porta a abrir e entra a professora Arlinda, uma das pessoas mais instruídas do lugar.

 Ó professora Arlinda, ouviu as notícias? O que está a acontecer? Explique-nos, pela sua saúde!

  Arlinda explica o pouco que sabe e deixa todos ainda mais ansiosos. As perguntas saem de rajada: Se o governo cai, quem vai governar? O Marcelo Caetano vai para onde? Vamos poder falar sem medo? Podemos andar livremente por qualquer lado? A PIDE vai desaparecer? E a guerra?

   A guerra pode acabar de um dia para o outro, diz a professora Arlinda.

  Aquela frase deixa Maria em sobressalto. Acaba a guerra de repente! O António pode voltar antes do previsto? Que Deus o permita!

  O dia vai chegando ao fim e as notícias não deixam dúvidas, a revolução aconteceu mesmo, o regime foi derrubado e, no dia seguinte, o Curro acordará num país diferente, um país livre.

  Uns dias depois, o correio deixa a correspondência em cima do balcão do café. Manuel entrega uma carta à filha: Pega Maria, é do Tono!

  Maria senta-se num banco, a um canto da mercearia onde tem mais privacidade. Abre o envelope de correio internacional, igual a muitos outros que tinha recebido nos últimos três anos. Lê a carta, uma, duas e três vezes, para ter a certeza de que não está enganada. É mesmo verdade: António informa que estará de regresso em duas semanas. Diz que escreveu aos pais para o irem buscar ao aeroporto de Pedras Rubras, com dia e hora marcada. Acrescenta um aviso: se não levarem a Maria com eles, ele não volta para casa.

Diana Machado Pinho | 11 A

 

 

   Numa tarde quente de abril nasceu o meu menino mais novo.

  O meu pobre corpo já não aguentava mais, tal era o trabalho doméstico que todos os dias tinha de realizar! Eram tempos difíceis esses, principalmente para alguém tão extrovertida como eu, pois raras eram as vezes que saía de casa. O campo era a minha casa de todos os dias.

  O trabalho era o principal foco na vida de todos os portugueses com dificuldades, fazendo com que a maioria nem sequer pensasse noutras coisas, como política ou futebol. Esse parto, a 25 de abril de 1974, não tinha sido o meu primeiro, antes fosse. Nessa altura já tinha mais três pequenotes à minha responsabilidade, o que ainda dificultava mais os meus dias.

  Ainda me parece que foi ontem! Quando ouvi as primeiras notícias sobre a revolução, estava a dar à luz o meu menino. Entre gritos e gemidos consegui manter a cabeça erguida, com esperança no sucesso da revolução, lá, em Lisboa. Foi isso que me ajudou a superar as dores daquele parto. 

  Assim, posso mesmo dizer que naquele preciso momento em que nasceu o meu menino de ouro, nasceu também a minha Liberdade!

Leonor Gomes|12.º C

 

 

  O povo é quem mais ordena

  Lembro-me de ter sete anos e de estar junto da minha mãe enquanto ela preparava o jantar. Mais tarde, pude datar esse dia: 24 de abril de 1974. Nessa noite, como era habitual, sentámo-nos à mesa e ligámos o rádio. O som emitido preenchia o silêncio que se formava, quando a minha mãe parava de falar sobre o seu dia na escola.

 Com a cozinha já arrumada, fomos para a sala: a minha irmã ficou a estudar e eu e a minha mãe, a ouvir rádio.

  Aí pelas 11 horas da noite, a música «E depois do adeus», de Paulo de Carvalho, começou a tocar. Como já era tarde, eu e a minha irmã fomos para a cama, apesar de ela só ter aulas de tarde, no dia seguinte.

  Não tenho a certeza de que horas eram, mas sei que acordei depois da meia-noite com a canção de Zeca Afonso, «Grândola Vila Morena», a dar no rádio, que continuava estranhamente ligado. Ainda um pouco estremunhada, levantei-me, dirigi-me à sala. A minha mãe permanecia sentada onde a tínhamos deixado, mas o seu semblante, normalmente cansado e triste, estava agora confuso e preocupado. Na altura, não compreendi. Ela levantou-se, olhou pela janela e, quando me juntei a ela, vi um grupo de militares a marchar nas ruas. Fiz inúmeras perguntas, mas ela não sabia responder. Ficámos caladas, coladas ao rádio durante o que me pareceu uma eternidade, à espera de uma explicação para o que estava a acontecer.

  A madrugada clareava e viam-se mais pessoas nas ruas, muitas com cravos ao peito. A minha mãe pediu que ficássemos em casa, que não demorava. Vi-a sair para a rua, juntar-se à multidão.

  Umas horas antes, tinha sido comunicada a revolução, e os militares, que anteriormente caminhavam sozinhos, tinham, naquele momento, o povo com eles. Todos marchavam por Portugal!

Soraia de Sousa Ferreira | 11 A

 

 

   Foi numa manhã de abril, fria, escura e de nevoeiro, que o povo português acabaria por ser salvo, não pelo tão aguardado regresso de El-Rei D. Sebastião, mas pelos militares do Movimento das Forças Armadas.

   Não existia liberdade, as músicas eram censuradas, as notícias manipuladas, o povo vivia no limiar da pobreza, os militares morriam nas guerras coloniais, era assim que se encontrava Portugal durante a ditadura. O maior desejo do povo era a liberdade e, desse desejo, nasce o MFA (Movimento das Forças Armadas) a 9 de setembro de 1973, em Alcáçovas. Foram estes militares que, movidos pelo sentimento de descontentamento, começaram a criar um plano para tirar Marcello Caetano do poder.

   Foi pouco depois das doze baladas, que marcavam o início do dia 25 de Abril de 1974, que começou a revolução que alteraria o futuro do povo português. A música «Grândola Vila Morena», de Zeca Afonso (música censurada pelo Estado Novo por transmitir ideais revolucionários), marca o início do fim da ditadura em Portugal.

   Era uma manhã banal, como todas as outras, mas, por entre a alvorada, escondiam-se dezenas de militares. O Terreiro do Paço estava já ocupado pelo MFA, e as tropas começavam a movimentar-se para o Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo. Ao aperceber-se dos tanques e dos soldados, o povo começou a juntar-se, inicialmente por curiosidade. Quando perceberam o que estava a acontecer, foi como um despertar coletivo, juntaram-se todos com um único objetivo: a liberdade.

   No meio da multidão destacou-se uma pessoa, Celeste Caeiro, uma humilde costureira que, no regresso a casa, se deparou com os soldados. Aproximando-se de um dos tanques, perguntou o que se passava, ao que um soldado respondeu: «Nós vamos para o Carmo para deter o Marcello Caetano. Isto é uma revolução!». Celeste, emocionada e sensibilizada, queria oferecer algo aos militares, mas a única coisa que tinha consigo era um molho de cravos. O soldado aceitou e pôs a flor no cano da espingarda. Celeste foi dando cravos aos soldados que ia encontrando pelo caminho.

  Antes do final do dia, já todo o povo gritava LIBERDADE.

  O DIA FICOU PINTADO DE VERMELHO, NÃO PELO SANGUE DERRAMADO, MAS PELAS FLORES QUE SIMBOLIZAM ATÉ HOJE A LIBERDADE! 

Íris Sofia de Oliveira Ferreira | 11 A

 

 

  O cheiro dos cravos, o cheiro da liberdade

  Tinha sido mais um banal dia de abril. O céu não tinha mostrado o seu azul, permanecera cinzento, carregado de nuvens. Todavia, no que dizia respeito às gentes de Lisboa, às gentes de Portugal, o céu podia ter caído. Pouco lhes interessava. Havia anos que o Sol não brilhava sobre a pátria.

  A maioria dos portugueses já dormia e, nas ruas, reinava o silêncio. Mas não por ser de noite: em Portugal reinava sempre o silêncio. Já nenhum lugar era realmente seguro – em nenhum restava o mais leve indício de liberdade, e as pessoas eram esmagadas pela opressão e pelo medo. Todos receavam dizer aquilo que pensavam. Raios! Até receavam pensar o que pensavam. Por isso, em Portugal, reinava o silêncio. Naquela noite, porém, este era interrompido em diversos quartéis, espalhados por Portugal. Lá, não reinava o silêncio – o rádio tocava e centenas de corações batiam acelerados e em uníssono, sustendo a respiração, à espera, mas não da música cuidadosamente escolhida e das notícias estrategicamente partilhadas, como era agora habitual. Essa rotina seria quebrada naquela noite. Naquela noite que, entretanto, já se tinha transformado em madrugada de 25 de abril de 1974. Naquela noite em que, do rádio, soaram passos rítmicos na gravilha e a emblemática voz de José Afonso cantou:

   «Grândola, Vila Morena

    Terra da fraternidade»

    Havia começado a revolução!

   De manhã, Portugal vibrava com a notícia. Portugal vibrava de esperança. Esperança. Que mágico era poder voltar a sentir esperança! O ar faiscava de emoção! As gentes estavam inquietas, desejosas de fazer algo. O sangue borbulhava-lhes nas veias. O coração e a razão estavam por fim de acordo. Os portugueses queriam lutar pelo seu país, lutar por si, lutar pelo seu futuro e pelo seu passado. Honrar o seu passado. Porque, no passado, os portugueses não esperaram por D. Sebastião, muito menos pelo Fizz Limão. Não esperaram por um milagre, nem que o passado voltasse para os salvar. Lutaram corajosamente contra os mouros, contra os castelhanos e, naquele dia, os portugueses lutariam contra a ditadura. E então, contrariando as ordens que lhes tinham sido impostas e unidos de um só coração, os portugueses saíram à rua. De cabeça erguida e pondo em risco a própria vida, os portugueses saíram à rua, ávidos por fazer parte da mudança e do dia que traria a glória de volta a Portugal. Os portugueses saíram à rua e fizeram História.

  Perante a sua força, os opressores renderam-se e entregaram o poder ao líder da revolução. Foi como se o país inteiro tivesse descansado depois de tantos anos a suster a respiração. Como se um pesado e escuro manto de melancolia tivesse sido levantado.

  Apesar de haver nuvens no céu, o Sol brilhava de novo sobre Portugal. E, nas ruas, os portugueses riam e festejavam o fim daqueles tenebrosos anos. E os cravos vermelhos, que eram levados ao peito e colocados nos canos das espingardas… Oh! Esses cheiravam a liberdade.

Sofia Oliveira Barbosa I 11 A

 

 

 

 

       

                               

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